terça-feira, 13 de novembro de 2012

Resenha - Watashi wa Shingo


Um conto de amor com frutos nada convencionais.



Você que lê esse blog ou me conhece, já está certamente careca de saber que Kazuo Umezu é um dos meus autores de mangá favoritos e que ele faz histórias de terror e ficção científica como ninguém. Neste post, falarei de uma obra que é bem diferente da maioria das coisas que ele já fez, possuindo um toque bem emocional e filosófico até... conheçam "Watashi wa Shingo" ("Meu Nome é Shingo").

O mangá foi publicado na Big Comic Spirits de 1984 a 1986, originalmente em 10 volumes (sendo que recebeu uma versão recompilada em 7 volumes anos depois). A história começa com Satoru Kondou, um jovem menino que um dia recebe a notícia de que no lugar onde seu pai trabalha, haverão robôs de manufatura para auxiliar no trabalho com os operários. O garoto logo fica empolgado e mal pode esperar para ir até o lugar ver os robôs.

Um dia, a escola onde Satoru estuda resolve preparar uma excursão para a fábrica onde seu pai trabalha, então durante a visita, Satoru conhece os tais robôs e fica impressionado com o que vê e quando sai do local, ele se depara com uma linda menina de outra escola (que também estava em excursão para o local) e se apaixona à primeira vista por ela. Um tempo depois, os dois vão ficando bem próximos e passam a visitar a fábrica todos os dias para interagir com um dos robôs e lhe "ensinar" (entenda como "programar") várias coisas e junto disso, uma bela e inocente história de amor é contada, mas o mangá é sobre isso?



"Eu sou Shingo!!"
A resposta é "não"! Depois de uma série de incidentes (que não contarei para evitar spoilers), Satoru e Marin são separados abruptamente pelo destino sem dizer o que sentiam verdadeiramente um pelo outro, e é aí, que então o "filho" que eles criaram, ou seja, o robô da fábrica, ganha consciência e vida própria e resolve escapar do local para partir em uma viagem em busca de seus "pais" que nunca conhecera e transmitir a eles as mensagens que eles nunca haviam dito um para o outro diretamente: "Eu ainda te amo". E então, o mangá toma sua forma e passa a narrar as viagens do robô Shingo em busca de sua família e de respostas para certos questionamentos como "Quem sou eu? O que vim fazer aqui?".

Diferentemente da grande maioria dos trabalhos do mestre Umezu, Watashi wa Shingo não é uma história de horror cheia de sangue e muita violência. Eu diria que é uma história de drama com toques de ficção científica sobre um robô tentando cumprir sua missão em uma jornada de descobertas.

Por ser bem diferente dos seus outros trabalhos, nota-se que Umezu estava experimentando caminhar para outros tipos de histórias mais densas. Watashi wa Shingo, é sem dúvida nenhuma a sua obra mais emocional e tocante, mesmo que às vezes, a carga dramática fique um pouco exagerada demais e o faça parecer um dramalhão romancista (apesar de isso não diminuir o mangá, na minha opinião). Mesmo com todas essas características peculiares em comparação ao resto de sua bibliografia, WwS ainda possui alguns elementos clássicos dos mangás do autor, como as tradicionais cenas mostrando a detalhada movimentação dos personagens de forma detalhadíssima, as expressões faciais exageradasdos personagens (como em cenas onde os personagens estão assustados, etc.) e a presença de eventos sobrenaturais bizarros.

E é alguns desses eventos sobrenaturais bizarros que eu acho que se encontra o maior defeito da obra. Sim,amigos, eu sei que reclamar de coisas bizarras em mangá do Kazuo Umezu é o mesmo que reclamar da chuva ser molhada, mas em Watashi wa Shingo, em algumas cenas, ele força demais a barra, até pro padrão de suas obras. Sugiro que não venha ler WwS esperando encontrar verossimilhança (assim como em outras obras dele, mas em WwS isso é MUITO mais acentuado).

"Quero Encontrá-los!"
A motivação de Shingo em sua saga.

Durante a obra, é interessante ver a interação entre Shingo e o mundo à sua volta. Em sua jornada, ele se depara com vários obstáculos, mas é constantemente favorecido em seus objetivos pela sua inteligência. Muitas vezes ele usa seus artifícios mecânicos para se livrar de enrascadas e interagir com máquinas ou pedir ajuda a alguns humanos se comunicando através de máquinas ou até através de animais. Tanto que a relação "Humano X Máquina" é um dos temas mais abordados no mangá, ao mesmo tempo que aborda o contraste entre a inocência de uma criança e a "frieza" do mundo onde vivemos (outro tópico recorrente em muitas das obras de Umezu, principalmente em The Drifting Classroom).

Conclusão:
Watashi wa Shingo é bem diferente de qualquer outra coisa que já vi o senhor Kazuo Umezu fazer. Às vezes dramático além do que deveria (mas isso é relevável), outras com reviravoltas malucas um pouco forçadas (não são muitas, mas as vezes em que isso acontece, são forçadas demais até pros padrões do mesmo homem que já escreveu uma história sobre um frango mutante cientista e sua vingança contra a humanidade), mas com uma história bem-conduzida e atraente, mesmo que ela possua um desenvolvimento relativamente lento. As interações de Shingo com o mundo, pra mim, são o ponto mais alto da obra. Elas rendem momentos bem tocantes até o final da série, mesmo que ele demore um pouco para aparecer no mangá. Mesmo com suas falhas, ainda digo que Watashi wa Shingo é um ótimo mangá, e sua leitura é altamente recomendada.

Onde ler:
Em inglês, 3 dos 7 volumes da edição bunkoban foram lançados pelo Gantz Waiting Room, mas, infelizmente lá, a série se encontra pausada há mais de 1 ano sem previsão de volta, ou seja, quem quiser ler o final da história terá que ser forte e ler as traduções do tradutor do scan, Molokidan, que felizmente, traduziu a série inteira e disponibilizou os scripts de tradução no Mangahelpers para serem lidos junto com as raws do mangá, que podem ser baixadas aqui, é meio trabalhoso, mas vale a pena o esforço.



Para os interessados, deixo ao final do post este vídeo com o próprio Kazuo Umezu falando um pouco da obra e sobre sua visão a respeito do mundo dos robôs (em japonês e, infelizmente, sem legendas, desculpem por isso, apesar de que dá pra aproveitar bem os primeiros 3 minutos do vídeo sem saber o idioma).




5 comentários:

  1. Interessante a premissa do autor pra essa obra. Ainda estou pra ler Fourteen, e acho que esse post me animou a ler mais do que isso. A Ficção científica é mais forte em quais obras dele?

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    1. Em The Drifting Classroom e principalmente em Fourteen (meu favorito dele). Os outros, são em sua maioria centrados em acontecimentos místicos (não é bem essa a palavra, mas acho que dá pra entender) ou sobrenaturais.

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  2. Gantz Waiting Room, ah, Gantz Waiting Room. Já choro por Jabberwocky faz tempo, e agora também chorarei por Watashi wa Shingo.

    Ótimo post, Ninta. Que seja a volta de um ótimo blog.

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  3. Obrigado, Rauzi!

    O pior de tudo, é que o Gantz Waiting Room parou justamente num dos cliffhanger filho de uma égua que dá início a um dos momentos mais marcantes do mangá. O fato de não estar completo na GWR foi o que me impediu de ler a série por muito tempo, até que um dia (finalmente) achei as raws e o Molokidan postou as traduções no Mangahelpers, então resolvi arriscar e ler. Foi um pouco trabalhoso, mas valeu a pena.

    Tentarei voltar aos poucos à minha velha forma aqui no blog, obrigado pelo apoio. :)

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  4. Boa recomendação Ninta, gostei muito de Fourteen e realmente quero me aprofundar mais nas obras do Umezu.

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